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terça-feira, 25 de agosto de 2015

JOÃO GRILO, O AMARELO QUE ENGANOU A MORTE (CORDEL)

UM PEQUENO TRECHO DO CORDEL

Chegando a uma cidade,
Se hospedou bem tranquilo,
Mas havia um fofoqueiro,
Esse conhecia o Grilo.
Então das suas trapaças
Ele não guardou sigilo.

Zé foi logo ao delegado
Falando: — Senhor Roberto,
Hoje chegou na cidade
João Grilo, um cabra esperto.
É interessante, senhor,
Ficar com o olho aberto.

Por onde João Grilo passa,
Muita gente sai lesada
E quando procura provas,
Nem uma é encontrada.
É como pisar no chão
Sem deixar sua pegada.

O delegado falou:
— Mas eu vou ficar atento.
Na primeira pegarei
Esse amarelo nojento,
Depois jogo no xadrez,
Na madeira o arrebento!


Como em cidade pequena
Boato corre ligeiro,
João foi depressa informado
Do que disse o fofoqueiro.
Então para se vingar
Preparou algo certeiro.

Na noite de sexta-feira,
O Zé sozinho voltava
Da casa de um amigo
E João Grilo o esperava
Bem próximo ao caminho
Por onde ele passava.

Seguia por um caminho
Muito escuro, esquisito.
Voltava duma visita
A outro falador perito,
Trazia na mente as novas
Que o amigo tinha dito.

E, naquela noite escura,
O Zé, muito receoso,
Sentia ali calafrios,
Revelando-se medroso,
Quando viu em sua frente
Algo bastante espantoso.

A caveira de uma vaca
Bem à beira de uma estrada
Estremeceu de repente,
Estalando sua ossada,
Abriu a boca e falou,
Com a voz bem arrastada:

— Boa-noite, meu amigo!
Ele perguntou: — Quem é?
Nisso a caveira falou:
—Não se assuste, seu José.
Quem fala é a caveira —
Acredite e tenha fé.

O Zé ficou assustado,
Mas acalmando em seguida,
Pensou: “A caveira fala?
Essa vai ser divertida,
Será a única verdade
Contada na minha vida.”


João Grilo, atrás duma árvore,
Usando linhas puxava
As queixadas da caveira
Enquanto dialogava,
Passando assim a impressão
Que a caveira é quem falava.

Disse a caveira: — Seu Zé,
Não é preciso ter medo.
Só desejo o seu favor:
Quero que amanhã bem cedo
Chame aqui o delegado,
Vou revelar meu segredo.

Não posso contar ninguém,
Somente pro delegado.
Eu estou o esperando,
O local é esse marcado.
Preciso contar depressa
Tudo que tenho guardado.

Se ele não acreditar,
Você pode acompanhá-lo,
O meu segredo guardado
Talvez consiga assustá-lo,
Não esqueça meu recado,
Pois estou a esperá-lo.

Zé, ouvindo, disse assim:
— Eu vou à delegacia
Amanhã logo cedinho,
Assim que raiar o dia.
Eu procuro o delegado;
Tem a minha garantia. 

Disse ela: — Zé, obrigado!
Aquietou-se novamente
Como quem caiu no sono,
Dormindo profundamente.
Zé Fofoca se mandou
Com aquilo em sua mente.

Coitado do fofoqueiro,
Admirado com aquilo,
Jamais passou pela mente
Ser astúcias de João Grilo.
Assim seguiu para casa
E não dormiu, intranquilo. 


O delegado, ao saber
Do convite da caveira,
Dando longa gargalhada
Perguntou dessa maneira:
— O senhor não tem vergonha
De vir me contar besteira?

O delegado ainda disse:
— A sua mentira é fraca.
Eu contando para o povo,
Muito pouco se destaca.
Quer mesmo Zé, que eu vá
Ver a caveira da vaca?

Preste atenção, seu José,
Tenho sido seu amigo,
Mas não aceito você
Fazer chacota comigo.
Saiba: eu sou autoridade
E posso dar-lhe um castigo.

José falou: — Dessa boca
Mentira  nunca saiu.
Venho lhe dar o recado
Conforme ela me pediu.
Como pode duvidar
Se você ainda não viu?

A caveira até pediu
Para eu lhe acompanhar,
Mas como não acredita,
Vá sozinho averiguar.
Você sendo autoridade,
Tem dever de investigar.

Disse isso e foi embora
Sem esquecer o assunto.
Dizendo: — Se for mentira,
Agora eu me pergunto,
Se não teria chamado,
Até para eu seguir junto.

Roberto ficou pensando
— O Zé só fala mentira,
Porém por obrigação
Assunto a limpo se tira.
Vou lá ver essa caveira,
Mesmo morrendo de ira.


Quando o delegado foi,
Irado com a “macaca”,
Chegando viu um bilhete
Dentro do olho da vaca,
Que dizia: Delegado,
Você é mesmo um babaca.

Como você foi dar crença
Em história de caveira?
Vou lhe dizer a verdade:
Foste bobo de primeira
Por favor, não leve a mal
Essa minha brincadeira.

O delegado Roberto
Ficou muito enfurecido.
Soltou ele um palavrão,
De tamanho desmedido,
Enquanto o João Grilo ria
No matagal escondido.

O delegado pegou
Zé sem dó nem compaixão,
Deu-lhe uma surra daquelas,
Depois jogou na prisão,
Dizendo: — Ainda foi pouco,
Seu cretino, fanfarrão!

Passou ali muitos meses
Jogado na enxovia.
Com pena o advogado
Tirou-o da delegacia.
Ele nunca mais mentiu
A partir daquele dia.

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